Cortei a carne por humildade;
E não bastou ter-Te crucificado,
Porque quiseste que eu nascesse humano.
Calquei as flores com os pés e com orgulho,
Jorrei poemas, ladainhas, astros;
E não bastou ter-Te crucificado.
Matei e feri, curei e fui curado,
Mil vezes me sangrei e Te sangrei,
E não bastou ter-Te crucificado:
Ainda quis coroar-Te rei de espinhos,
Rei de sangue e suor, e flagelado.
E olha para a Tua obra magna,
Tu, que quiseste que eu nascesse humano:
Não Te bastou ter-Te crucificado.
João Aguiar, 1972
Pontiado a aparo com tinta da china sobre papel A3 |
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