sábado, 28 de maio de 2011

ILUSTRAÇÃO CIENTÍFICA

À direita - Vulgar "Arroz dos telhados" Grafite sobre papel 1/1 
FAMÍLIA: Crassuláceas 
NOME VULGAR: Arroz dos telhados, Pinhões de rato
DESCRIÇÃO: Planta glabra ou levemente puberulento-papilosa; flores brancas ou rosadas, com as pétalas pequenas ou medíocres (2,5-5mm); cimeira corimbiforme, multiflora; folhas cilindrico-oblongas ou subovóides, de 15-5mm de comprimento, as dos caules floríferos sempre alternas
HABITAT: Muros, telhados, rochedos, sebes
FLORAÇÃO: Maio a Julho

segunda-feira, 23 de maio de 2011

ILUSTRAÇÃO CIENTÍFICA

"Calliphora erythrocephalus" ou seja, a vulgar mosca da TV que todos conhecem. Caneta e tinta da china em poliester A4

quinta-feira, 12 de maio de 2011

TEATRO

A ENCOMENDAÇÃO DAS ALMAS
Convento da Arrábida - Azeitão (Setúbal)
5, 12 e 26 JUN • 18h18
17, 24 e 31 JUL • 18h18
7, 14 e 21 AGO • 18h18
4 e 11 SET • 18h18
Acesso: € 30 + €5/pax
Reservas: reservas@fatiasdeca.net ou tel: 960 303 991
Mais informações em 
www.fatiasdeca.net
Obs: não é autorizado o estacionamento de carros na estrada de acesso ao Convento da Arrábida, pelo que os espectadores terão de se deslocar no autocarro que o Fatias de Cá porá à disposição, com saída de Azeitão às 18h30 e regresso pelas 22h. Os €5 adicionais destinam-se a suportar o custo da deslocação.

terça-feira, 10 de maio de 2011

domingo, 8 de maio de 2011

quinta-feira, 5 de maio de 2011

ILUSTRAÇÃO CIENTÍFICA

PARÁBOLA DAS MOSCAS
Primeiro capítulo, cujo cenário é uma sala de estar.
- O que é que há hoje na TV? - perguntou a mosca doméstica (musca domestica) ao seu companheiro, que pertencia, como não podia deixar de ser, à subcategoria musca vulgaris Linnaei.
Ele desviou os olhos da notícia que lia na página desportiva do jornal (a única que favorecia com as suas atenções) e consultou a programação:
- Assim, coisa de jeito... daqui a cinco minutos temos a telenovela, depois há a transmissão do Ajax - Desportivo de Pedrógão a contar para o Campeonato de Subcinco.
Não acrescentou que se a conspícua amantíssima adormecesse, como ele esperava, ainda podia ver o filme pornográfico que a SIC anunciava no programa, com um O e a eufemística designação de «erótico».
A musca domestica suspirou de alívio e comentou: - Vá lá, não é mau. Eles têm estado a melhorar.
Dizia isto porque ainda na véspera assistira embevecida a um châo musical ao vivo e em directo, com artistas nacionais do mais puro quilate, tanto assim que ainda lhe vibravam no cérebro os versos sublimes: «Afinal havia outra / E eu sem saber...».
Convém esclarecer que estas duas moscas, nas suas respectivas subcategorias, pertenciam à grande classe da musca lusitanica.
Segundo capítulo, cujo cenário é um gabinete mobilado com discreto bom gosto.
As moscas em presença, sendo embora da mesma classe lusitanica, pertenciam a subcategorias muito mais exaltadas.
- Não me interessa que haja descontentes! - exclamava a musca guterreana mirabilis aos seus colaboradores íntimos - Temos de manter a nossa participação na campanha contra a miloseviciana terribilis. Está claro que não serve para nada, mas dá-nos uma certa projecção internacional. Olhem que estou farto de ver a nossa bandeira, de cada vez que há uma conferência de imprensa da NATO em Bruxelas.
Ninguém objectou que a bandeira estaria lá mesmo que não houvesse participação, nem que o financiamento da dita, ainda que quantitativamente pouco expressivo, seria bem mais útil e moralmente mais imperativo, se fosse gasto, por exemplo, no auxílio à musca timurensis massacrata. Afinal de contas, abichar umas viagens na Europa ou para a América era certamente preferível a queimar muitos neurónios e muitas energias com causas incómodas.
- E agora, um outro assunto - prosseguiu a guterreana mirabilis. - O que é que nos falta privatizar? Eu, se querem saber, ando a pensar na Assembleia da República. Afinal de contas, é preciso manter a coerência; ou somos socialistas ou não somos!
Terceiro capítulo, que decorre numa sala sumptuosa e elíptica.
- Então, esses nabos enganaram-se outra vez? - resmungou a musca clintoniana oralis (subcategoria da classe presidentialis mundi sublimissima). Quantos civis foram, desta vez? Duzentos? É uma chatice, há que dizer aos rapazes que têm de afinar a pontaria. E o que se passa com a musca kosovaris lixata? Continua a lerpar à grande, não? Bom, de qualquer modo a nossa orientação mantém-se, meus senhores: a partir de agora, os ataques aos insubmissos por esse mundo fora, passam a ser feitos via NATO. E se vierem repontar a dizer que é uma aliança defensiva, olhem: já a minha mãezinha dizia que a melhor defesa é o ataque. Quem são eles para contrariar a minha mãe?
Quarto capítulo, algures em Java.
- Quais referendo nem meio referendo! - exclamou a musca indonesica dictatorialis. - Mandem mas é mais comandos integracionistas para dissolver o sarampo à timurensis massacrata. De resto, a australianica petroliphica e a cliontiana oralis apoiam-nos, mesmo que falem baixinho.
O epílogo, que se segue e que é muito breve, tem como cenário o Planeta Terra:
Por estranho que pareça, o consagrado provérbio nem sempre é exacto e temos, portanto, de o corrigir:
A merda, companheiros, é que tende a mudar de aspecto e substância; as moscas, essas, não variam muito.
João Aguiar

Ensaio a lápis de cor sobre poliester A4

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A ENCOMENDAÇÃO DAS ALMAS

 A ENCOMENDAÇÃO DAS ALMAS (ESTREIA)
Convento da Arrábida - Azeitão (Setúbal)
5, 12, 26 JUN
Acesso: € 30/pax
Reservas: reservas@fatiasdeca.net ou tel: 960 303 991

http://www.facebook.com/photo.php?fbid=10150160073898647&set=a.10150118831543647.281258.245806878646&type=1&ref=nf
Ilustração de J. Sousa "O Secular das Nuvens" para o Romance
A ENCOMENDAÇÃO DAS ALMAS

domingo, 1 de maio de 2011

CONTOS

OS REBUÇADOS MISTERIOSOS

Um conto psico-policial

por
João Aguiar
 
ilustrado por
Joaquim de Sousa

Este conto foi escrito especialmente para o Pedro Miguel de Aragão Lamy Pereira Callisto, pelo seu (dele) tio João.
A edição também é especial para ele e consta de um único exemplar, ilustrado por Joaquim de Sousa, que também concebeu e executou a capa.

ÍNDICE
Capítulo 1: Princípio de uma aventura....................................4
Capítulo 2: Terá sido um sonho?.............................................7
Capítulo 3: Os rebuçados desaparecem novamente!...............9
Capítulo 4: O Pedro em perigo!............................................10
Capítulo 5: A mana Maria Ana e a prima Vermelhinha........12
Capítulo 6: Tudo se resolve..................................................14

CAPÍTULO 1

O princípio de uma aventura

Nesta história conta-se uma aventura do Pedro. Mas primeiro, vou dizer-lhes quem ele é.
O Pedro tem seis anos e vive em Lisboa, numa casa muito simpática. O pai do Pedro é ainda novo e é um prometedor membro da Grande E Antiga Ordem dos Conflitos. Já a mãe do Pedro, que também é nova e é muito bonita, pertence à Ordem dos Aflitos, sobretudo quando a mana do Pedro, a Maria Ana, está acordada.
O Pedro, sabem vocês, já vai à escola. E foi justamente à entrada da escola que esta sua aventura começou.
Foi assim:
De manhã cedo, quando ele ia mesmo a entrar pelo portão, aproximou-se um senhor bem vestido que lhe disse:
- Bom dia! Como é que tu te chamas?
O Pedro sabia, claro está, que as crianças não devem falar assim com qualquer desconhecido em plena rua. Por isso fez um sorriso, para não parecer antipático, mas continuou a andar.
Então, o tal senhor bem vestido, que, via-se bem, estava com muita pressa e parecia muito nervoso, insistiu dizendo:
- Espera, não tenhas medo!
E o Pedro respondeu: - Eu não tenho medo nenhum, porque se o senhor quisesse fazer-me mal, aqui à porta da minha escola, eu desatava num tal berreiro que vinha toda a gente.
- Mas eu não quero fazer-te mal! - disse o homem, que olhava à sua volta como se receasse estar a ser seguido - Só quero dar-te estes rebuçados! Toma, são para ti!
E pôs na mão do Pedro um pacotinho com rebuçados. Depois, afastou-se quase a correr.
Como vocês hão-de calcular, o Pedro ficou muito espantado. Ele sabia que não se estava em época de campanha eleitoral, portanto ninguém dava rebuçados, nem mesmo às crianças. Mas aquele homem, não havia dúvida, tinha-lhe dado rebuçados. Coisa estranha!
Enfim, eles ali estavam, na sua mão. Claro que o Pedro não pensou sequer em comê-los, sem saber de onde vinham. Guardou-os no bolso para os mostrar aos pais. E entrou na escola.
Tão pensativo ia, a matutar no que lhe tinha acontecido, que nem reparou numa coisa: atrás dele, na rua, um carro da Polícia passava a grande velocidade, com a sirene a tocar, e o tal senhor bem vestido que lhe dera os rebuçados corria a bom correr pelo passeio, até que enfiou por uma ruela estreita, enquanto o carro da polícia parava e os agentes saíam e largavam, também a correr, atrás dele.
Repito, o Pedro não reparou em nada disto. Depois, durante o dia, acabou por esquecer-se dos rebuçados, porque teve muitas coisas importantes para fazer: ler, escrever, aprender os algarismos, brincar, comer, enfim, todas essas coisas. No fim do dia, à saída da escola, ele já nem se lembrava de que tinha os rebuçados guardados no bolso do blusão.
No dia seguinte, quando ia a entrar na escola, o Pedro foi abordado por outro desconhecido. Era diferente do da véspera porque era mais baixo, mas também estava bem vestido e também parecia muito nervoso e ter muita pressa.
Este homem chegou-se a ele e disse:
- Olá! Como é que te chamas?
E o Pedro disse-lhe: - Mas que mania, toda a gente quer saber o meu nome! Não digo, pronto! Eu não conheço o senhor de parte nenhuma!
- Está bem, está bem, não te zangues! - respondeu o homem. - Ouve cá: ontem, um amigo meu deu-te uns rebuçados, não é verdade?
- É verdade, e depois? - replicou o Pedro, tendo o cuidado de não deixar o outro aproximar-se muito dele.
- Acontece que aquele meu amigo se enganou, sabes, os rebuçados não eram para ti... já os comeste?
- Não comi, nem como - respondeu o Pedro e ao ouvir isto o desconhecido esfregou as mãos de contente.
- Óptimo, óptimo. Então, se tu me devolveres esses rebuçados eu dou-te... eu dou-te cinco escudos!
Ora, para azar dele, o Pedro, na véspera, tinha estado a aprender as contas de multiplicar, por isso abanou a cabeça, riu-se um bocado e disse:
- Ná! Primeiro, eu não sei quem você é, nem se o outro homem é seu amigo ou não. E depois, aqueles rebuçados devem custar uns dois escudos cada um. Ora eles são seis, portanto seis vezes dois escudos faz doze escudos. E você quer dar-me cinco escudos! Nem pense nisso!
O homem rangeu os dentes, furioso. Mas logo dominou a zanga.
- Está bem, eu dou-te os doze escudos.
- Não! - respondeu o Pedro, que tinha embirrado com ele.
- Dou-te doze escudos mais um retrato do João Bobão, do Bigue Chou Sic!
O Pedro, que era um rapazinho esperto e portanto não gostava nada do João Bobão, recusou. O homem estava a ficar desesperado:
- Além disso, dou-te uma assinatura da «Caras»! E um resumo do «Rei dos Bois», já com o fim e tudo! E uma cassete com o «Coentro e Merengue»!
Como vocês devem saber, o «Rei dos Bois» e o «Coentro e Merengue» eram telenovelas que estavam muito na moda. Mas o Pedro, tal como não gostava do Bobão, também não gostava das telenovelas e não as via.
- O senhor está a aborrecer-me - disse ele ao desconhecido. - Não quero nada disso e agora deixe-me em paz.
E numa corrida entrou na escola, enquanto o homem, junto ao portão, ainda gritava:
- E uma fotografia da dentadura da Catarina Furtado, com autógrafo! E um bocadinho da peruca da Teresa Guilherme! Ouve, não queres antes uma orelhinha do Miguel Esteves Cardoso?
Mas o Pedro já não o ouvia, tinha entrado na escola. Em todo o caso, uma insistência tão grande, deu-lhe que pensar, já se vê. E por isso, quando o pai o veio buscar, à tarde, ele estava muito atento ao que se passava à sua volta. Ora, não tardou a reparar que o carro do pai estava a ser seguido por um outro automóvel. E quem estava ao volante era o homem que lhe tinha oferecido tantas coisas horrorosas em troca de seis rebuçados.
O Pedro decidiu logo contar tudo ao pai e à mãe, assim que chegasse a casa.

CAPÍTULO 2

Terá sido um sonho?

        Mas, nessa noite, o Pedro não ia dormir a casa, porque os pais iam sair à noite. Ele e a mana Maria Ana dormiam em casa de uma das avós que, também vivia em Lisboa. Chamavam-lhe a Avó Bochexinha, não sei bem porquê.
Portanto, quando, depois do jantar, a mana Maria Ana finalmente adormeceu e a casa ficou em paz, o Pedro contou tudo muito bem contado à Avó Bochexinha e esta ficou preocupadíssima.
- Temos de avisar o teu pai! - disse ela - mas antes, mostra-me esses rebuçados, para vermos o que eles têm de especial.
O Pedro foi buscar o blusão, meteu a mão no bolso direito... mas os rebuçados não estavam lá! Ele bem procurou em todos os bolsos, mas nada: tinham-se sumido.
- Tens a certeza de que não foi um sonho? - perguntou a Avó. - Às vezes, os sonhos parecem tão verdadeiros...
- Não, Avó Bochexinha, palavra que não foi um sonho! - garantiu o Pedro.
A Avó acreditou nele, porque o Pedro nunca mentia. Mas enfim, a verdade é que não se encontravam os rebuçados, de modo que não podiam fazer nada. Em todo o caso, na manhã seguinte, quando o pai veio buscar o Pedro e a mana Maria Ana, a Avó Bochexinha contou-lhe a história dos rebuçados. E apesar de o pai também acreditar em tudo, nenhum deles conseguia perceber o que estava a passar-se.
- Mas uma coisa vais fazer em todo o caso! - avisou o pai. - Vais ter muito cuidado à entrada e à saída da escola, para o caso de um desses homens aparecer outra vez. Aliás, eu mesmo entro e saio contigo.
Assim se fez e durante uns tempos nada aconteceu. Todos foram esquecendo o assunto e até mesmo o Pedro começou a pensar que se calhar, afinal, ele tinha mesmo sonhado tudo aquilo. Se não era possível encontrar os rebuçados!
Uma tarde, porém, estava ele em casa a brincar no seu quarto, depois de vir da escola (e de fazer os trabalhos de casa, está claro), lembrou-se de uma coisa muito, muito importante. Sabem vocês qual foi?
Foi esta: naquele dia em que o primeiro desconhecido lhe oferecera os famosos rebuçados, o Pedro tinha-os guardado no bolso do seu blusão azul. Mas... mas no dia em que fora dormir a casa da Avó Bochexinha, ele levara o blusão verde! E a verdade é que havia já uns tempos que não vestia o azul!
Ao lembrar-se de tudo isto, o Pedro correu ao guarda-fato, pegou no blusão azul, procurou nos bolsos - e lá estava o pacotinho com os seis rebuçados. Triunfante, pegou no pacote e trouxe-o para o quarto. Afinal, não tinha sonhado, era tudo verdade.
Ia ele mostrar os rebuçados à mãe quando, neste instante, tocaram à campainha da porta. E logo a seguir, bateram também à porta de serviço.
Acontece que em casa só estavam o Pedro, a mãe e a mana Maria Ana, pois o pai tinha saído. E a mãe do Pedro, que também já sabia de toda a história, achou estranho que houvesse gente a tocar à porta da frente e, ao mesmo tempo, a bater à porta de serviço. De modo que não abriu logo, primeiro perguntou:
- Quem é?
E uma voz de homem, muito educada, respondeu:
- Boa tarde, minha senhora... era para oferecer uma amostra grátis do detergente Esquipe...
Ao ouvir isto, o Pedro gritou: - Não abra, mãe, não abra!
Porque ele tinha reconhecido a voz do homem que o abordara à saída da escola...
E agora? O que vai acontecer agora?

CAPÍTULO 3

Os rebuçados desaparecem novamente!

O Pedro explicou rapidamente à mãe que aquele era um dos homens dos rebuçados. Entretanto, quem batia à porta de serviço também dizia que era para oferecer embalagens grátis, estas de sopas instantâneas enriquecidas com enzimas.
- É a mesma coisa! - sussurrou o Pedro ao ouvido da mãe. - São os homens dos rebuçados!
Ora o Pedro sussurrou, de facto, mas fê-lo um pouco alto, tanto assim que o homem que estava a tocar à porta da frente ouviu a palavra «rebuçados» e vai daí começou outra vez a fazer propostas de troca:
- Eu, por esses seis rebuçados, dou três bilhetes novinhos, a estrear, para assistir ao Bigue Chou Sic, mais outros quatro para o Sâpraise Chou, e... e... (aqui o homem hesitou, à procura de outra coisa para oferecer) ...e uma colecção das asneiras que os jornalistas dizem na TV, editada em livro!
E tanto à porta da frente como à porta de serviço, os que estavam lá fora começaram a dar grandes punhadas.
O Pedro sentia-se mesmo aflito. Foi então que a mãe disse em voz bem alta: - Não te preocupes, Pedro, a mãe já telefonou à polícia...
Foi, como se costuma dizer, remédio santo: ouviram-se passos apressados, de quem descia a escada a correr, e voltaram o silêncio e o sossego. Uf, que alívio!
Mas, claro, quando daí a bocado chegou o pai e lhe contaram o que se tinha passado, ele não ficou nada descansado.
- Ainda por cima - disse, - não percebo nada do que se está a passar! Não compreendo nada disto.
- Eu cá, já percebi! - exclamou o Pedro. - Se esses homens fugiram quando ouviram a mãe dizer que tinha chamado a polícia, é porque são bandidos!
O pai, embora achasse que ele tinha razão, ainda não estava satisfeito:
- Mas o que querem eles? Por que é que andam atrás desses rebuçados, que ainda por cima desapareceram?
O Pedro lembrou-se então de que tinha encontrado os rebuçados e correu ao seu quarto à procura deles...
...Mas quando lá chegou, os rebuçados tinham desaparecido outra vez.

CAPÍTULO 4

O Pedro em perigo!

No dia seguinte, o Pedro foi para escola, como sempre. O pai e a mãe tinham conversado muito durante a noite sobre se haviam de falar mesmo com a polícia, mas afinal de contas, agora com os rebuçados novamente desaparecidos, o que podiam eles mostrar aos agentes? Em todo o caso, o pai, ao chegar à escola, saiu do carro e acompanhou o Pedro até ele entrar no edifício.
O dia correu normalmente, com estudo e com brincadeiras. Depois, à saída, é que o Pedro se distraiu e fez uma coisa que, vamos lá, não devia ter feito.
Acontece que o pai se atrasou um bocadinho e ainda não tinha chegado à escola quando o Pedro já estava pronto para sair. E então, sem se lembrar de tudo o que acontecera, o Pedro, em vez de esperar dentro da escola, resolveu esperar no passeio. Ora, mal ele tinha saído o portão da escola, apareceu em frente dele um palhaço horrível, com o fato coberto de lantejoulas, que lhe disse:
- Apanhei-te! Agora vens comigo e vais dar-me os rebuçados!
E o Pedro, ao levantar a cabeça para ver quem lhe falava assim, reconheceu o famoso e sinistro João Bobão, que aparecia no Bigue Chou da TV.
O que fazer? O João Bobão já estendia os braços para ele... e de repente, o Pedro viu o pai, que chegava de carro. Mas o João Bobão agarrou-o, tapou-lhe a boca e levantou-o do chão. Então, teve uma ideia: no bolso das calças, ele guardava uns berlindes, que tinha trazido para brincar na escola (só durante os intervalos, já se vê!!!). O que ele fez foi tirar os berlindes do bolso e deitá-los para o chão, ao mesmo tempo que ferrava uma valente dentada na mão do João Bobão, que deu um berro, disse uma asneira muito grande (que eu não vou repetir aqui, só posso dizer que incluía o nome do dr. Manuel Monteiro) e deixou cair o Pedro.
Mal se viu no chão, o Pedro correu para o carro do pai. O horrível Bobão tentou ainda agarrá-lo mas rebolou nos berlindes e malhou no chão com toda a força. Logo a seguir, levantou-se e fugiu com tal rapidez que desapareceu num instante.
Mal o Pedro acabou de contar esta aventura ao pai, este tomou uma decisão:
- O que nós vamos fazer é consultar o Tio Feiticeiro.
O Pedro não sabia quem fosse essa pessoa e o Pai explicou: - O Tio João Feiticeiro sabe muitas coisas esquisitas e faz umas magias estranhas... eu já devia tê-lo consultado mas ainda não o fiz porque é um enorme chato. Mas agora tem de ser!
E lá seguiram para casa do Tio João Feiticeiro. Quando chegaram, antes de bater à porta, o pai avisou o Pedro:
- Não tenhas medo, ele é muito chato mas não faz mal a ninguém.
E bateu à porta. O Tio Feiticeiro veio abrir e disse: - Olha, os meus queridos sobrinhos! Entrem, entrem, eu ia justamente ouvir uma ópera nova do Philip Glass e gostava de ter companhia!
O pai do Pedro suspirou e gemeu baixinho. Mas seguiu o Tio até à sala. Aí, tiveram de ouvir uma música que nunca mais acabava e tão aborrecida que o Pedro adormeceu. Quando acordou, a música tinha terminado e a sala estava cheia de fumo, que saía de um cachimbo que o Tio Feiticeiro tinha apertado entre os dentes. Enquanto soltava nuvens de fumo cada vez mais densas, ia dizendo:
- Hmmm... hmmm... tudo isso é muito claro, até certo ponto. Quem está por detrás de todas essas coisas é a sinistra Seita dos Inimigos da Cultura, a SIC...
- Mas o que querem eles? - perguntou o pai - por que é que deram seis rebuçados ao Pedro e depois andam atrás dele para os recuperar?
O Tio largou mais fumo, tanto que o Pedro já mal o via, e foi oculto por essa nuvem que respondeu:
- Isso não sei, sobrinho. Mas o que posso dizer-te é que nessa história está metido o Grão-Desprezível...
- Quem? - perguntou o Pai .
- O Grão-Desprezível é o título de um dos grandes responsáveis da seita. Não o chefe, oh, não: esse é o Supremo Piroso, e pouca gente sabe quem ele é, trata-se de um segredo bem guardado. Mas o Grão-Desprezível, esse, posso eu dizer-te quem ele é: o João Bobão.
- E foi ele que quis raptar-me! - exclamou o Pedro.
- Exactamente - disse o Tio Feiticeiro. - E agora que já lhes disse tudo o que sabia, talvez vocês queiram ouvir a nova gravação do «Tristão e Isolda» de Wagner, que eu...
- Obrigado, Tio, mas temos de ir andando - disse o pai do Pedro, muito à pressa, e saíram os dois quase a correr.

CAPÍTULO 5

A mana Maria Ana e a prima Vermelhinha

O Pedro e o pai chegaram a casa um bocado mais tarde, por causa desta visita ao Tio João Feiticeiro. A mãe já estava à espera deles para jantar e nessa noite estava lá de visita a tia Psicossomática e a filha dela, a prima Vermelhinha, uma bebé encantadora. Ela e a mana Maria Ana tinham praticamente deitado a casa abaixo e era na parte que sobrava inteira que todos iam jantar.
Falou-se muito do que acontecera e das informações dadas pelo Tio Feiticeiro.
- Mas onde estarão esses rebuçados, que aparecem e desaparecem? - perguntava o pai do Pedro. - Onde estão eles?
E nisto, ao olhar para a mana Maria Ana, disse:
- Ó querida, como é que a menina foi capaz de riscar o tampo de vidro dessa mesa?
E mal disse isto, o pai percebeu que algo de estranho se passava. A mana Maria Ana tinha na mão uma coisa brilhante...
O pai tirou-lha da mão e olhou-a.
- Mas é um diamante! (claro: só os diamantes é que riscam o vidro daquela forma).
E nisto ouviu-se uma vozinha a dizer:
- Ti Pê, ó, ó!
Era a prima Vermelhinha, que tinha tirado da boca outro diamante que estivera a chupar. E na mão esquerda da mana Maria Ana estavam quatro dos rebuçados que tinham desaparecido...
Bom, os pais do Pedro perceberam logo: dos seis rebuçados, quatro eram perfeitamente normais, mas dois eram diamantes escondidos dentro de uma capa de açúcar em ponto. E tinham sido logo esses que a mana Maria Ana e a prima Vermelhinha, com a sua infalível intuição feminina, haviam decidido chupar, colaborando assim, embora sem o saber, para a resolução do problema.
De momento, porém, o problema não estava resolvido, bem longe disso.
- Bem gostava eu que o Tio Feiticeiro nos explicasse isto sem nos obrigar a ouvir música... - murmurou o pai do Pedro. E logo - porque ele era feiticeiro - surgiu o Tio, envolvido numa nuvem de fumo de cachimbo.
- Sobrinhos, meus queridos sobrinhos! - exclamou ele - esses dois diamantes, conheço-os. Foram roubados há três semanas da Expônoventa e oito, eram os olhos da estátua do Grande Ídolo Cacu!
Surpresa geral, embora, claro está, os pais do Pedro e da Maria Ana, bem como a simpática tia Psicossomática, tivessem lido a notícia do roubo nos jornais...
- Mas quem os roubou? - perguntou o Pedro. E o Tio Feiticeiro respondeu:
- Bem, certamente que foram os homens da Seita dos Inimigos da Cultura, essa infernal SIC. E certamente que a operação foi comandada pelo Grão-Desprezível João Bobão, a mando do seu chefe, esse Supremo Piroso cuja identidade permanece um mistério. Mas, meus queridos sobrinhos, este vosso tio julga ter penetrado o mistério. Porque ainda há poucos dias o conhecido dr. Pimba Balsemão, numa entrevista à revista «Caras», anunciou, com aquela sua insuportável arrogância, que iria à festa de aniversário de divórcio de uma certa Amarílis usando uns botões de punho feitos de diamantes... portanto, ou eu me engano muito ou o Supremo Piroso e o dr. Pimba Balsemão são uma e a mesma pessoa!

CAPÍTULO 6

Tudo se resolve

E assim, graças a esta informação, foi possível resolver o mistério dos rebuçados. O João Bobão, ao ser preso pela polícia, quis negar tudo, até mesmo que tivesse tentado raptar o Pedro. Só que o Pedro tinha guardado uma lantejoula que caíra do facto do horrível palhaço e assim foi possível identificá-lo sem qualquer dúvida.
Assustado, o Bobão confessou então que agira, de facto, a mando do Supremo Piroso, o grande chefe da sua seita, e que este era o dr. Pimba Balsemão. Ambos estão hoje presos, entregues ao Tio João Feiticeiro, que os obriga a ouvir a sua música favorita vinte e quatro horas por dia. Segundo parece, encontram-se à beira da loucura.
A sinistra seita a que ambos pertenciam ainda não acabou, infelizmente, mas há esperanças de que perca o seu monstruoso poder.
E o Pedro, a mana Maria Ana e a prima Vermelhinha tiveram uma grande festa em que não havia um único rebuçado.

FIM
 Moral da história: Se esta SIC não transit, estamos feitos ao bife de vaca.

"Transparências" 2004 Óleo sobre tela 40x50cm