sábado, 4 de dezembro de 2010

CRIAÇÃO E LIBERDADE



Parece redundante dizer que a Criação, seja sob que forma for, tem a Liberdade como sua primeira condição.
Mas, ao falarmos em criação humana — porque sobre a divina, é-nos impossível falar —, devemos saber que a liberdade que ela exige não é qualquer liberdade.
Por exemplo, não nos é permitido partir do zero. A criação ex nihilo não é possível ao homem; toda a criação humana reflecte uma realidade, seja ela externa, objectiva, seja ela a realidade íntima do criador, também essa condicionada, parcialmente, por factores externos. Nós construímos a partir da imaginação, da experiência e da vivência.
Está também errado pensar que a liberdade objectiva é uma condição essencial para a criação. Não raro, as imposições servem como catalisadores: um prazo imposto pode — como todos os criadores sabem — dar um impulso decisivo ao processo da criação. A opressão e as proibições exercidas por um poder ditatorial tanto podem agir como travão e mordaça como podem, pela própria revolta que inspiram, servir como incentivo e fonte de ideias para o acto de criar, embora reprimam ou impeçam depois a divulgação da obra — mas a criação, essa, foi consumada.
Então, a liberdade essencial, a liberdade indispensável para permitir o processo criador é, muito simplesmente — a liberdade interior, aquela que só nos pode ser tirada pelo adormecimento ou pela alienação.
É essa liberdade que, acima de tudo, temos de defender.

João Aguiar

J. Sousa - Grafite H sobre papel

1 comentário:

  1. Como sempre, o desenho está um espanto. Mas fez serão?, só pode!
    Bjs.
    Antónia

    ResponderEliminar