domingo, 26 de dezembro de 2010

AQUILINO RIBEIRO NO PANTEÃO

Com um sincero respeito por opiniões contrárias à minha, direi que vejo a entrada de Aquilino Ribeiro no Panteão Nacional — onde nem sequer figura Eça de Queirós — como sendo, essencialmente, uma espécie de “operação de pré-campanha” antecedendo as comemorações do centenário da República.
Independentemente da qualidade literária de Aquilino, que não está em questão nem é alvo de contestação, confesso não ver uma razão de suficiente peso para o colocar no Panteão Nacional. Ao contrário de Garrett ou de Eça, nem a sua obra nem a sua acção mudaram o curso da literatura em Portugal. Falta-lhe também o significado cultural de um Alexandre Herculano. É, evidentemente, um bom escritor; teve, sem dúvida, uma certa intervenção política. Mas isso não basta.
Por outro lado, há, como já foi referido publicamente, indícios ou suspeitas (não faço afirmações, pois não me documentei sobre o assunto) de uma implicação de Aquilino no regicídio de 1908. Penso que teria sido aconselhável estudar e aprofundar a questão, caso tal fosse possível. Porque, SE (sublinho o “se”) ele esteve de facto implicado, então foi cúmplice de um duplo homicídio particularmente repugnante. Isto, se verdadeiro, em nada afectaria a sua estatura literária; mas tornaria (ou tornará) embaraçosa a sua presença no Panteão.
Por último: se, como suspeito, esta é essencialmente uma primeira acção comemorativa da República Portuguesa, lembrarei então que o saldo principal desta República é um período de anarquia sangrenta e de miséria, depois um longo período de ditadura (o longevo Estado Novo) e, enfim, a apagada e vil tristeza mental e psíquica em que nos encontramos presentemente. Não vejo o que há para comemorar…
 João Aguiar


Fim do dia de férias no Vimeiro - Setembro 2oo7

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